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15 de outubro de 2024

Três meses após maior roubo da história do RS: veja o que se sabe

Assalto no aeroporto de Caxias do Sul é também considerado o sexto maior roubo do Brasil


Por Pablo Bierhals Publicado 01/10/2024
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Foto: Reprodução/Câmeras de Segurança

As autoridades consideram que no dia 19 de junho deste ano ocorreu o maior roubo da história do Rio Grande do Sul. Na ocasião, bandidos disfarçados de policiais federais invadiram o aeroporto de Caxias do Sul e assaltaram um avião que transportava valores em uma ação calculada nos seus mínimos detalhes.

Uma reportagem especial detalhando a investigação comandada pela Polícia Federal foi exibida neste domingo (29), no Fantástico. A apuração foi realizada pelos policiais da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio (Delepat), responsáveis por desarticular a quadrilha em apenas três meses de intenso trabalho.

O delegado à frente do trabalho, Marcio Teixeira, considera que a investigação apresentou resultados satisfatórios. “Em 70 dias, promovemos a prisão preventiva de 13 participantes desse crime, 12 buscas domiciliares, 26 veículos entre apreensões e sequestro identificados nessas manobras da ação delitiva”, disse à reportagem.

Relembre o crime

A quantia tentada de R$ 30 milhões, ou ainda os quase R$ 15 milhões levados pelo bando, superam um assalto de 2002, cometido em Jaguarão, na fronteira com o Uruguai. Na época, 10 criminosos levaram R$ 5,7 milhões em mercadorias de um depósito da aduana. O que mostra ainda como o caso no Hugo Cantergiani é atípico e isolado é que o crime é também o sexto maior do Brasil.

O carro-forte era abastecido por malotes de dinheiro trazidos de Curitiba em uma aeronave de pequeno porte. Um grupo, de oito a 10 pessoas, atacou funcionários da empresa de transporte de valores, em uma ação que surpreendeu pela audácia dos criminosos.

Com armamento de guerra, incluindo um fuzil Barrett M82 calibre .50, e fardamento falso, os assaltantes usaram veículos com adesivos da Polícia Federal para acessar o hangar do aeroporto. O portão 2 foi aberto por funcionários que atuam no aeroporto justamente por acharem que se tratava da PF.

O primeiro confronto se deu entre os seguranças do carro-forte e a quadrilha. Na sequência, guarnições da BM se deslocaram ao local. Na primeira a chegar no Hugo Cantergiani estava o 2º sargento Fabiano Oliveira, 47 anos. Os policiais foram recebidos com disparos de arma de fogo. Um dos tiros de fuzil atingiu o 2º sargento no tórax e atravessou o colete de proteção balística. Mesmo socorrido e levado ao hospital, o brigadiano não resistiu.

No confronto, após a chegada da Brigada Militar, o assaltante Sílvio Wilton da Costa foi morto. Ele fugia em uma camionete Frontier, falsamente identificada como sendo da PF. Com ele foram recuperados cerca de R$ 15 milhões, metade do total que estava sendo transportado.

Imóveis e veículos utilizados

A investigação revelou um método audacioso para escapar do cerco policial montado pelas forças de segurança na serra gaúcha: a modificação de uma van com placas clonadas, que foi adaptada para exibir uma faixa escolar. Esse veículo foi responsável por resgatar os assaltantes armados com fuzis e malotes que continham R$ 14,4 milhões, após abandonarem os carros no distrito de Galópolis, em Caxias do Sul. Com a aparência de estar transportando alunos, eles conseguiram evitar o monitoramento policial inicialmente.

No total, foram utilizados 13 veículos, incluindo caminhonetes Santa Fé blindadas e com logotipos falsos da PF.

A investigação também revelou os locais utilizados durante a preparação do crime, sua execução e fuga: três sítios, um em Igrejinha, outro em Riozinho e um terceiro em Alto Feliz, além de duas casas, uma em Vila Tupã, Alvorada, e outra no bairro Monte Verde, em Farroupilha.

O sítio localizado em Igrejinha é apontado como “QG” do crime, onde foram preparados os últimos detalhes.

Ligação com o PCC

A investigação utiliza interceptações telefônicas, cruzamento de informações e perícia da Polícia Federal, que identificou digitais dos criminosos nos imóveis, proporcionando provas sólidas para o processo. A identificação de um dos assaltantes ligado ao PCC, Diego Rodrigues Andrade, o “Gordão do PCC”, ocorreu através de seu vestuário, especificamente um sapatênis que ele usava em assaltos em Cordeirópolis (SP), Camanducaia (MG) e Guarapuava (PR). Em um áudio, sua companheira menciona o tênis, indicando que ele retornaria em breve. Gordão foi preso após informações da Polícia Civil de São Paulo.

A PF também descobriu que o grupo levou Jurandir da Silva Barros, um especialista em explosivos, para Caxias do Sul. Ele estava preparado para explodir caminhões, caso o plano falhasse. O procurador Celso Três destacou o nível de organização do grupo, que previa diferentes cenários durante o assalto.

Jurandir foi identificado por investigadores que perceberam que ele estava com o braço machucado após uma explosão em Cordeirópolis. Câmeras de segurança mostraram um homem com uma tala, levando à sua prisão.

A PF considera três homens como os líderes do assalto. Guilherme Costa Ambrozio, um dos assaltantes mortos, seria o elo entre o PCC e uma facção gaúcha. Adriano Pereira de Souza, o Cigano, é visto como um dos líderes do PCC em Guarulhos, enquanto Diego Moacir Jung, o Dieguinho, condenado a 48 anos e com passagens por 10 assaltos a banco, está vinculado à facção gaúcha. Ambos estão presos.

19 denunciados pelo MP

Ao todo, com 17 indiciados pela PF e mais duas participações apontadas pelo Ministério Público, 19 pessoas foram denunciadas. Em 13 de setembro, a Justiça Federal acatou a denúncia, transformando todos em réus por latrocínio, que inclui roubo seguido de morte, tanto na forma consumada quanto na tentada. A acusação afirma que, além de assassinarem o sargento da Brigada Militar Fabiano Oliveira, os envolvidos puseram em risco a vida de 13 funcionários de empresas de segurança e de oito policiais militares que estavam no local do crime.

A PF enfatiza que, embora a investigação tenha sido concluída, ainda há outros aspectos do caso em análise: